É preciso falar aos adultos. Mas, antes e principalmente, é preciso falar aos que ainda serão adultos, enquanto eles ainda não se contaminaram pelos preconceitos, pelas amarguras e pelas dificuldades daqueles que já deixaram de ser crianças.
É preciso não deixar que o entendimento se sobreponha ao sentimento. Por isso não é preciso fazer uma literatura infantil didatizante. É muito mais efetivo entregar às crianças a poesia sutil de palavras e imagens e acreditar na capacidade que elas têm de, assim, sentir – para, com o tempo, compreender.
É imprescindível falar às crianças porque elas ainda têm a coragem de não se curvar aos muitos rótulos, às tantas imposições, às imensas padronizações que vão se acumulando no horizonte do crescer e na vida adulta.
É necessário oferecer às crianças a liberdade de serem revolucionárias, de terem o pensamento livre, de se saberem potentes nas defesas de suas ideias e de seus ideais. Para isso, é preciso dar voz a elas e os espaços de que precisam e a que têm direito – porque tantas vezes isso não acontece.
E, por fim, é assim, falando às crianças, que nós, adultos, nos deixamos permitir com elas.